Já estamos todos mortos quando vivos nestas poses que emprestam aos retratos certo ar de documento do quanto fomos, gente, para algum arremedo de posteridade. Ah, já estamos mesmo todos mortos quando abrimos os olhos  e arreganhamos os dentes diante de algum fotógrafo.

Este mundo não te pertence, Bandini. O modo rude como afias a faca nos teclados da velha máquina. Sente, Arturo, a voz doce da garçonete, a mexicana de alpercatas sujas. Fumas unos chinos en Madrid? Para viver, é sim, para viver assim, com nada além de palavras. "No hacías otra cosa que escribir". E sonhar, …

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Fica sentida, não. É noite ainda. Há uma escuridão enorme na porta. Bate. Ouve? Pede para entrar em tua casa. Não abra. Fica quieta enquanto arde, e esta solidão selvagem fecha a passagem para fora. Ah, tudo é breu e brisa na paisagem. Mas o medo evapora. Sente? Fica firme. Paciente. Da tua pele, a …

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Nossa Senhora de Copacabana, dai-nos o Sol todos os dias, mesmo no Inverno. Dai-nos o seu calor sem termo, Nossa Senhora de Copacabana. Dai-nos um céu de brigadeiro a cada semana. Dai-nos um céu de brigadeiro, nossa senhora de Copacabana. Dai-nos alvoradas sem medo. Dai-nos manhãs de poesia. Dai-nos entardecer sem tédio. Dai-nos o pôr-de-sol …

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Poema em linha reta (Pessoa)

Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo. E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil, Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita, Indesculpavelmente sujo. Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho, Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo, Que tenho enrolado …

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